Um camelô. Camelô dos seus próprios livros, que vendia nas portas dos teatros. E tão simpático e prestativo que prometia morrer logo para valorizar os autógrafos. Mas tão antipático e irascível que agrediu verbalmente um garoto que chegou para cumprimentá-lo e...pedir um autógrafo. Um dramaturgo fantástico. Um inculto, que conhecia vinte palavrões e escrevia peças. Um grande admirador da sua esposa, a atriz Walderez de Barros. Admirador das mulheres em geral, capaz de se meter numa briga de desconhecidos para evitar que batessem em mulher. Um briguento, aliás. Um machista meio cômico, que acreditava estar ofendendo uma mulher se não se lhe desse uma cantada e não convidasse para “dar uma chegadinha” ao seu apartamento. Nunca se filiou a partidos ou instituições. Um anarquista. Mas um anarquista extremamente amoroso com os amigos, capaz de gestos grandiosos. E mais estranho ainda: um anarquista que acreditava nas cartas do tarô. Um crente, um religioso? Não, um bandido. Foi preso algumas vezes, e o engraçado é que os guardas o adoravam (onde já se viu isso?). Um barbudo meio desdentado e mal vestido, que foi amigo de Cobrinha, um morador de rua que morreu de tuberculose. Um pai que usou fraque para levar a filha ao altar. Um escritor na feira do livro em Paris, posando para fotos ao lado de João Ubaldo Ribeiro e Chico Buarque.
Este foi Plínio Marcos, cuja biografia, "Bendito Maldito", escrita por Oswaldo Mendes, encanta pelo inusitado.