segunda-feira, 7 de junho de 2010

Let's play that



Eu andava muito curiosa em busca de Torquato Neto, ávida por conhecer um pouco mais do poeta/multi mil coisas, depois que descobri a relação entre seu suicídio a música Cajuína. Olhei no Google, li um pouco e “arquivei” para continuar a busca em outro momento.
Até que em um fim de tarde, no trabalho, escuto a música “Um dia desses”, do belo CD “Maré” de Adriana Calcanhoto. Penso que deve ficar ótima no violão e decido pegar a cifra quando estiver em casa. Qual não é minha surpresa quando descubro que foi composta por Torquato Neto. Suprema sincronicidade. Foi o estopim para que eu “desarquivasse” o assunto Torquato e começasse a ler bastante sobre ele, no entanto as fontes na internet não são muito boas. Então em um belo domingo, estou na Siciliano fazendo hora quando, de brincadeira, vou ver se acho alguma coisa de Torquato. Digo de brincadeira porque a Siciliano só vende “best sellers” ou alguns clássicos. Torquato é tido como poeta marginal e não é tão conhecido. Mas para minha absoluta surpresa encontrei, e disponível no estoque aqui em Natal, o primeiro volume da obra completa – Torquatália, que estou lendo.

Uma das coisas mais bacanas de pessoas e poetas como Torquato é a contradição, a urgência, o tudo ao mesmo tempo agora. É lindo ver a ironia convivendo com a doçura, a rebeldia com a precisão e o rigor técnico. O “desafino do coro dos contentes” dançando com uma certa nostalgia...
Ele, o mesmo Torquato, foi capaz de letras que só posso definir como fofas, com grande apelo sentimental, como a já citada “Um dia desses”, que tem um trecho assim:
meu pobre coração não vale nada
anda perdido, não tem solução
mas se você quiser ser minha namorada
vamos tentar, não é?
não custa nada
até pode dar certo ai ai
e se não der eu pego um avião,
vou pra xangai
e nunca mais eu volto pra te ver.


E “cometeu” também poesias maravilhosamente malucas como “Let´s play That”, pegando carona no anjo de Drummond:


Quando eu nasci um anjo louco muito louco
Veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião

eis que esse anjo me disse
apertando minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes


E o anjo estava certo. Ele desafinou um bocado...

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