segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Por onde andará Sasha?


O que ela terá feito da vida? Onde estará morando, por onde andará no dia do show? 
Essa foi a pergunta que Alex e Bennie Salazar fizeram no último capítulo do livro “A visita cruel do tempo” (não, isso não é um Spoiler). Tal pergunta provavelmente irá conduzir o leitor a refletir, com um leve sorriso, sobre a sua própria vida, e talvez ele tente imaginar por onde andará aquele garoto/garota que era seu melhor amigo nos tempos da escola, ou ainda aquela moça/rapaz (como era mesmo o nome?) que namorou no verão de dez ou quinze anos atrás. 
Essa evocação de pensamentos é, em minha opinião, um dos maiores méritos do livro “A visita cruel do tempo”, de Jennifer Egan. 


A história não é linear. Sim, a técnica é antiga, mas funciona muitíssimo bem, moldada pelo talento da autora.  O livro mostra um personagem numa determinada época, depois salta para outro personagem, em outra fase, outro tempo, e alguns capítulos depois nos deparamos com aquele que não víamos há umas vinte ou cinquenta  páginas. E aí ocorre a mágica: é como encontrar, dez anos depois, o filho daquela vizinha que mudou de cidade, que era um pirralho, e agora é outra pessoa, agora é um rapaz. E você pensa: “meu deus, como o tempo passou!” O livro proporciona esses “sustos”, essas sensações. 

Além de não ser linear, a própria estrutura narrativa é constantemente modificada: são diversos tipos de narradores diferentes, o que traz ainda mais movimento ao texto. O curioso é que toda essa confusão resulta em um livro harmônico e sem furos; tudo se conecta, a história é extremamente bem costurada. 
Mas sobre o que trata a história mesmo?
Bennie Salazar tinha uma banda de rock na adolescência, na qual tocava baixo, mas não era bom com o instrumento.  Já seu amigo Scotty era um ótimo guitarrista. Bennie desiste do baixo, mas se torna um produtor musical famoso, porém inconformado com a influência da tecnologia sobre o som; ele é um amante do som “sujo”, analógico. Sasha é assistente de Bennie. Scotty...bem, não vou contar mais nada sobre ele. Basta saber que na adolescência ele era charmoso e mandava bem na guitarra. Muitos outros personagens aparecem e reaparecem, e a história não é o mais importante do livro, porque ele trata de pessoas comuns vivendo suas vidas através dos anos. Eu e você poderíamos ser personagens. Não existe um núcleo central de mocinhos e bandidos. É um livro que trata das perdas e da ação do tempo sobre as pessoas (e sobre o rock!).  É um livro sobre relações humanas, mudanças, redes sociais, crescimento, declínio, nostalgia, solidão, morte, drogas, autodestruição, tudo ao mesmo tempo, e tudo embalado por uma bela trilha sonora (muitas músicas são citadas ao longo do livro, a exemplo de The passenger, de Iggy Pop). 

A  autora ganhou o pulitzer de 2011; de forma irônica, “A visita cruel do tempo” vem sendo considerado “o livro do momento”.   Esqueci de mencionar que ele também discute as relações de marketing. Logo na capa do livro vemos em letras grandes: “vencedor do Pulitzer”. A informação aparece como se fosse quase tão importante quanto o título.
Mas é bom, o livro é muito bom. Não sei se daqui a alguns anos lembrarei dele; não sei se entrará para a minha galeria particular de livros inesquecíveis, mas valeu a pena. 



A nostalgia era o fim da linha – todo mundo sabia disso” (Bennie Salazar)

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