quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Um cara gente fina

Antigamente eu tinha certo preconceito com biografias; achava que eram um gênero “menor”, uma perda de tempo, e, além disso, achava que eram livros muito chatos. Esse preconceito foi nocauteado pela leitura de “O bandido que sabia latim”, a biografia de Paulo Leminski. Depois veio "Tête à Tetê", de Hazel Rowley, espécie de biografia da famosa relação amorosa e intelectual de Jean Paul Sartre com Simone de Beauvoir. Em seguida me encantei com o maravilhoso trabalho de Benjamin Moser: "Clarice, uma biografia". Um livro de mais de seiscentas páginas que você quer ler de um fôlego só, e que traz luzes e mais luzes para a compreensão da obra de  Clarice Lispector.  Depois li a biografia de Sérgio Sampaio, sobre a qual já falei logo abaixo. E eis que acabei agora “Minha fama de mau”, a biografia do Tremendão Erasmo Carlos. 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Don't give up the fight

(Carta para uma garota qualquer, que poderia ser eu mesma)

Esqueça o que você aprendeu ao longo dos anos.  Nada é como te disseram. O mundo não é justo, as coisas não são fáceis, os méritos não são reconhecidos, os sonhos nem sempre se realizam, a verdade nem sempre prevalece, a amizade verdadeira não sobrevive a toda e qualquer adversidade, o amor não é eterno. Veja quantas pessoas infelizes à sua volta: aquele casal que está junto há trinta anos e se alimenta das brigas e picuinhas; o que os une é simplesmente a satisfação em importunar o outro, em tornar a vida dele miserável. Veja aquela mulher do interior que sempre acreditou que o casamento é o que há de mais importante na vida de uma mulher...e ELA não se casou.  Aquele homem que nunca soube fazer nada a não ser trabalhar, que ao final da carreira se aposenta e é totalmente esquecido e não sabe mais o que fazer com essa coisa chamada tempo.  Aquela empresária que passou dos 40, tem grana sobrando, só anda impecável, vive fazendo tratamentos estéticos e parece sempre entusiasmada e de bem com o mundo, mas que não suporta um único minuto de solidão e é incapaz de gerenciar a própria dor.  E aquelas pessoas que remoem o ódio. As que não suportam ver a alegria alheia. 

Os akitas e o silêncio

" ainda ontem
convidei um amigo
     para ficar em silêncio
comigo
   ele veio
meio a esmo
     praticamente não disse nada

e ficou por isso mesmo"
(Leminski)

 Cachorro é assunto para iniciados. Quem nunca teve a alegria de chegar em casa e ser recebido com uma verdadeira festa (ainda que tenha saído só pra ir à padaria da esquina) não entende o motivo de tanto nhenhenhem com os bichinhos. 
Filhotes de akita
Com nhenhenhem", que fique bem claro, eu não quero falar de fazer aniversário de cachorro, encher o bicho de roupinhas, pulseiras e afins, que isso eu acho uma grande bobagem. Falo do nhenhenhem  emocional, da dor que a gente sente quando vai viajar e ficar longe deles, da loucura e da preocupação quando eles ficam doentinhos, enfim, do amor que eles são capazes de despertar e mais, da sensação que eles nos transmitem, contra toda a racionalidade possível, de que também nos amam. Clarice Lispector disse certa vez, sobre o seu cão Dilermando, que ela encontrou nas ruas de Nápoles:

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Govinda, Govinda, Iansã

Eu ora acredito em espíritos, chego até a ver uns vultos transitando aqui em casa, ora não acredito em nada. Mas na dúvida, de vez em quando dou uma olhadinha embaixo da cama só pra garantir. Detesto, absolutamente detesto acordar de madrugada e ver no relógio da cabeceira que são 3:03, 3:30, 4:04, 5:05...Se acordar às 3:33, então, é o fim: insônia garantida. Odeio essa repetição dos números bem na hora em que acordo. Acho sinistro, sei lá por que... Mas como diz um meu amigo, pior seria se houvesse seis horas e sessenta e seis minutos.