terça-feira, 8 de novembro de 2011

Iluminar a vida

Os meses de agosto, setembro e outubro foram bem complicados para mim. Ocorreram problemas de saúde sérios na minha família. Além disso, até minha cachorrinha adoeceu gravemente (só entende quem tem cachorro...). E a conjunção astral estava tão desfavorável que nem meu fiel cabeleireiro Alexandre acertou o corte do meu cabelo nesses meses, apesar de termos uma parceria capilar feliz há vários anos. Como se não bastasse, desde setembro estou vivendo no exílio, sem meus cachorros, sem minha rede na varanda e sem meus livros, em razão de uma reforma lá em casa. 

domingo, 14 de agosto de 2011

Vacío


Roberto Juarroz, poeta argentino, nasceu em 1925 e faleceu em março de 1995. Ele é um dos autores presentes da minha  "Antologia de poesía argentina de hoy". 

No hay salto al vacío.
Aunque no existan ángeles para sostenernos,
ni tampoco travesaños de pensamiento,
ni relativizaciones o absolutos
que puedan retenermos de los brazos.
Hay que ganar el vacío desde antes,
colonizarlo con nuestros abandonos
como si fuera un despojado territorio
o una nueva libertad nunca ejercida.

Por alguna rázon

Joaquín Giannuzzi nasceu em Buenos Aires, em 1924. Morreu em 26 de janeiro de 2004. Foi escritor e crítico literário. Achei essa poesia linda e de certa forma parecida com algumas de Álvaro de Campos (meu heterônimo preferido de Fernando Pessoa).

Por alguna rázon


Compré café, cigarrillos, fósforos.
Fumé, bebí
y fiel a mi retórica particular
puse los pies sobre la mesa.

As brutas

(Reina María Rodriguez)


Quatro mulheres enforcaram-se no planalto.
Degolaram com paciência os seus animais
as suas vinte cabras
os seus dois cães de raça,
e os corpos
penderam no vazio.
Mas o vazio tinha nesse dia uma luz roxa
e havia pássaros presenciando o sangramento
daquele sangue jovem.

domingo, 31 de julho de 2011

Thanks, youtube





Museu de sensações

"No tempo da maldade acho que a gente nem era nascido” 
 (Chico Buarque)

Pedimos ao amor , que nos dê um pedaço de vida verdadeira, de morte verdadeira. Não lhe pedimos a felicidade,  nem o repouso, mas um instante de vida plena  em que os contrários se fundam  e vida e morte, tempo e eternidade, compactuem." 
(Octavio Paz)

Mas no mesmo instante em que aquele gole, de envolta com as migalhas do bolo, tocou meu paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem noção de sua causa. Esse prazer logo me tornaria indiferente às vicissitudes da vida, inofensivos seus desastres, ilusória sua brevidade, tal como o faz o amor, enchendo-me de uma preciosa essência: ou antes, essa essência não estava em mim, era eu mesmo. Cessava de me sentir medíocre, contingente, mortal. De onde me teria vindo aquela poderosa alegria? Senti que estava ligada ao gosto do chá e do bolo, mas que ultrapassava infinitamente e não devia ser da mesma natureza. De onde vinha? Que significava? Onde apreendê-la? 
(Marcel Proust)


Era o momento mais feliz da minha vida, mas eu não sabia. Se soubesse, se tivesse dado o devido valor a essa dádiva, tudo teria acontecido de outra maneira? Sim, se eu tivesse reconhecido aquele momento de felicidade perfeita, teria agarrado com força e nunca deixaria que me escapasse. Levou alguns segundos, talvez, para aquele estado luminoso tomar conta de mim, mergulhando-me na paz mais profunda, mas ele me pareceu ter durado horas, até mesmo anos. Naquele momento, na tarde de segunda-feira, 26 de maio de 1975, em torno de quinze para as três, assim como nos sentíamos além do pecado e da culpa, o mundo todo parecia ter sido liberado da gravidade e do tempo. 
(Orhan Pamuk)



quarta-feira, 4 de maio de 2011

Licença por uns dias, meses ou anos

Há pouco menos de um ano eu começava a reunir textos antigos para compilar neste blog, e passei a escrever coisas novas também.  2010 foi um ano agitado e complicado para mim, e o blog servia como uma forma de expressar, muitas vezes de maneira simbólica, o que eu sentia. 

E nada como um ano depois do outro.  Em 2011 eu simplesmente resolvi deixar pra lá. Minhas indefinições, minhas dúvidas e dores...

Sei lá, passou a vontade de escrever. 

Talvez eu ainda escreva, mas certamente não com a mesma freqüência. 

Como diria meu amigo Ritchie, a vida tem dessas coisas. 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Da necessidade urgente urgentíssima de regulamentar o uso de celulares tocadores


Insidioso como uma serpente venenosa, letal para a saúde psíquica dos que estão à sua volta, grave elemento de perturbação da ordem, o celular que toca músicas vem se infiltrando no cotidiano das pessoas.  Esse tipo de equipamento precisa urgentemente ter o seu uso regulamentado. As pessoas deveriam se candidatar a ter um celular tocador, entrar numa fila de espera e para adquirir teriam antes que fazer um curso no qual seriam obrigadas a assistir no mínimo três vezes a palestras com os seguintes temas:

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Huevos revueltos, um leve arrepio e um bar chamado Macondo

Recentemente comprei um pequeno livro  chamado “Diário de Viagem”.  Descobri, então,  a maravilha que é fazer um diário com o registro das viagens. Eu sempre gostei muito de diários; tenho um no qual registro sonhos e outro que é uma espécie de auto-análise; sem contar que este blog, como o próprio nome diz, foi feito para guardar minhas impressões e experiências, sendo então um tipo de diário. Acho muito interessante ver que pessoa você era há algum tempo; lembrar do que sentiu, do que experimentou...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Algo de novo no front

“No hay felicidad mas pura que la felicidad de cantar"
(Gabriel Garcia Marquez, na introdução do disco Pablo Querido, de Pablo Milanes)

Quando eu era pequena, sonhava ser cantora. Como não nasci dotada dos equipamentos vocais adequados (ou seja, não canto porcaria nenhuma), desisti da idéia, por mim e pelos potenciais ouvintes. Então só me restou ouvir. O que, aliás, não é pouco, pois, complementando a frase de Garcia Marquez, citada logo acima,  poucas felicidades são também tão puras quanto a de escutar uma boa música. 

segunda-feira, 14 de março de 2011

In cold blood

Com febre, olhos lacrimejantes e um pouco de dor de cabeça terminei de ler, há pouco tempo, “A sangue frio”, de Truman Capote.

Tudo começou quando exercitava meus dedos no controle remoto à procura de algo para ver na televisão.  Senti uma espécie de atração pela estética de um filme que passava no canal 06, e comecei a assistir. Fui gostando, e vi até o final. Devo ter começado mais ou menos na metade do filme, que se chamava  “Capote”, e abordava o período em que o escritor pesquisou, preparou e finalmente redigiu sua grande obra:  “A sangue frio”.  Quando o filme acabou, a primeira coisa que pensei foi: PRECISO ler esse livro. 

quinta-feira, 3 de março de 2011

Para além de Roberta Sá e Marina Elali

Aqui em Natal muitas vezes as discussões sobre cantores/músicos locais é polarizada entre Marina Elali e Roberta Sá. Houve um tempo em que existiam quase que torcidas organizadas, com comparações e até xingamentos. Confesso que fazia parte da torcida organizada de Roberta Sá, primeiro porque gosto bastante do repertório dela, da postura no palco e da voz. Roberta Sá é linda, elegante e muito talentosa. “Lavoura”, cantada com Ney Matogrosso, é qualquer coisa muito perto da perfeição:

Amar é ter um pássaro pousado no dedo

Certa manhã tive de súbito a lembrança de ter passeado por uma rua  com minha akita e de ter visto, na calçada, uma árvore totalmente desfolhada e repleta de pássaros.  Fiquei sem saber ao certo se era uma lembrança falsa (resquícios de um sonho, talvez) ou se eu realmente havia passado nesse local. No dia seguinte fui tirar a dúvida, e lá estava ela: imponente, apesar da ausência das folhas. Galhos e mais galhos retorcidos. Parecia serena, transmitia uma estranha sensação de perenidade. E nos galhos, dezenas de passarinhos.  A árvore, então, não havia sido sonhada. Ela existe e fica numa rua por trás da minha casa.  Eu adoro passar por lá no finalzinho da tarde, quando os pássaros estão alvoroçados, cantando e se movendo bastante, indo e voltando, pousando e voando. 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Um cara gente fina

Antigamente eu tinha certo preconceito com biografias; achava que eram um gênero “menor”, uma perda de tempo, e, além disso, achava que eram livros muito chatos. Esse preconceito foi nocauteado pela leitura de “O bandido que sabia latim”, a biografia de Paulo Leminski. Depois veio "Tête à Tetê", de Hazel Rowley, espécie de biografia da famosa relação amorosa e intelectual de Jean Paul Sartre com Simone de Beauvoir. Em seguida me encantei com o maravilhoso trabalho de Benjamin Moser: "Clarice, uma biografia". Um livro de mais de seiscentas páginas que você quer ler de um fôlego só, e que traz luzes e mais luzes para a compreensão da obra de  Clarice Lispector.  Depois li a biografia de Sérgio Sampaio, sobre a qual já falei logo abaixo. E eis que acabei agora “Minha fama de mau”, a biografia do Tremendão Erasmo Carlos. 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Don't give up the fight

(Carta para uma garota qualquer, que poderia ser eu mesma)

Esqueça o que você aprendeu ao longo dos anos.  Nada é como te disseram. O mundo não é justo, as coisas não são fáceis, os méritos não são reconhecidos, os sonhos nem sempre se realizam, a verdade nem sempre prevalece, a amizade verdadeira não sobrevive a toda e qualquer adversidade, o amor não é eterno. Veja quantas pessoas infelizes à sua volta: aquele casal que está junto há trinta anos e se alimenta das brigas e picuinhas; o que os une é simplesmente a satisfação em importunar o outro, em tornar a vida dele miserável. Veja aquela mulher do interior que sempre acreditou que o casamento é o que há de mais importante na vida de uma mulher...e ELA não se casou.  Aquele homem que nunca soube fazer nada a não ser trabalhar, que ao final da carreira se aposenta e é totalmente esquecido e não sabe mais o que fazer com essa coisa chamada tempo.  Aquela empresária que passou dos 40, tem grana sobrando, só anda impecável, vive fazendo tratamentos estéticos e parece sempre entusiasmada e de bem com o mundo, mas que não suporta um único minuto de solidão e é incapaz de gerenciar a própria dor.  E aquelas pessoas que remoem o ódio. As que não suportam ver a alegria alheia. 

Os akitas e o silêncio

" ainda ontem
convidei um amigo
     para ficar em silêncio
comigo
   ele veio
meio a esmo
     praticamente não disse nada

e ficou por isso mesmo"
(Leminski)

 Cachorro é assunto para iniciados. Quem nunca teve a alegria de chegar em casa e ser recebido com uma verdadeira festa (ainda que tenha saído só pra ir à padaria da esquina) não entende o motivo de tanto nhenhenhem com os bichinhos. 
Filhotes de akita
Com nhenhenhem", que fique bem claro, eu não quero falar de fazer aniversário de cachorro, encher o bicho de roupinhas, pulseiras e afins, que isso eu acho uma grande bobagem. Falo do nhenhenhem  emocional, da dor que a gente sente quando vai viajar e ficar longe deles, da loucura e da preocupação quando eles ficam doentinhos, enfim, do amor que eles são capazes de despertar e mais, da sensação que eles nos transmitem, contra toda a racionalidade possível, de que também nos amam. Clarice Lispector disse certa vez, sobre o seu cão Dilermando, que ela encontrou nas ruas de Nápoles:

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Govinda, Govinda, Iansã

Eu ora acredito em espíritos, chego até a ver uns vultos transitando aqui em casa, ora não acredito em nada. Mas na dúvida, de vez em quando dou uma olhadinha embaixo da cama só pra garantir. Detesto, absolutamente detesto acordar de madrugada e ver no relógio da cabeceira que são 3:03, 3:30, 4:04, 5:05...Se acordar às 3:33, então, é o fim: insônia garantida. Odeio essa repetição dos números bem na hora em que acordo. Acho sinistro, sei lá por que... Mas como diz um meu amigo, pior seria se houvesse seis horas e sessenta e seis minutos. 

domingo, 30 de janeiro de 2011

O tapa brutal da dor

Sérgio Sampaio, meu queridinho da vez, inaugura uma nova seção neste blog: Músicas que combinam com vinho, ou, a depender do gosto do cliente, com uma boa dose de cachaça!
Não, curioso leitor. Não estou sentindo "o tapa brutal" de nenhuma dor específica.  Só tomei duas tacinhas  de vinho e ouvi Sampaio pra combinar. E concordo com  o poeta Vinicius de Moraes: pra fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza. Nem que seja uma tristeza inventada, simulada, pelo mero prazer de uma dose caprichada e cheia de sentimento!
Cheers!

PS: Infelizmente o vídeo não tem imagens, só o áudio mesmo. "Tapa brutal da dor" é trecho da letra dessa música.

Variações sobre um mesmo tema ("velhice")

 Gosto das
mulheres que envelhecem,
com a pressa das suas rugas, os cabelos
caídos pelos ombros negros do vestido,
o olhar que se perde na tristeza
dos reposteiros. Essas mulheres sentam-se
nos cantos das salas, olham para fora,
para o átrio que não vejo, de onde estou,
embora adivinhe aí a presença de
outras mulheres, sentadas em bancos
de madeira, folheando revistas
baratas. As mulheres que envelhecem
sentem que as olho, que admiro os seus gestos
lentos, que amo o trabalho subterrâneo
do tempo nos seus seios. Por isso esperam
que o dia corra nesta sala sem luz,
evitam sair para a rua, e dizem baixo,
por vezes, essa elegia que só os seus lábios
podem cantar.

(Nuno Júdice)

(Bela poesia de Nuno Júdice que descobri por acaso. A tela é de Picasso)

A reinvenção da vida (ou: o amor nos tempos da decrepitude)

"Para as rosas, escreveu alguém, o jardineiro é eterno" (Machado de Assis)

Sempre me causa uma certa “apreensão existencial” ver o elogio supremo da juventude que é feito o tempo inteiro na mídia, e que já foi incorporado ao nosso dia a dia. Claro que a velhice traz desconfortos, dores, indisposições, requer cuidados, mas tentar esquecer que ela existe é uma grande bobagem; como se diz por aí, as opções não são muito boas: é velhice ou morte precoce. O importante é aprender a envelhecer com dignidade, e eu creio que essa dignidade consiste no caminho do meio: é não se deixar consumir por achaques, rugas, aposentadoria e tédio, mas também não lutar desesperadamente para parecer adolescente, fazendo mil cirurgias e estripulias (vide muitas “celebridades” da TV e da revista Caras). É saber se adaptar, tentar sempre melhorar e cultivar sobretudo a serenidade, porém sem nunca perder a capacidade de se espantar. Mário Lago tem uma frase bem bacana sobre esse equilíbrio: “Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: nem ele me persegue nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra”. 

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Um dom de causar conseqüências

Um amigo e “fornecedor cultural” me deu ano passado um MP3 com alguns discos de Sérgio Sampaio, cantor/compositor que eu não conhecia. Eu simplesmente parei ao ouvir ”Roda Morta - reflexões de um executivo”. 
“Esse cara leu a minha mente”. Foi o que pensei. A melodia, a voz envolvente e a letra que parecia ter sido criada para mim; na realidade, acredito que a letra pode ser consagrada como o Hino Oficial dos Servidores Públicos e outros trabalhadores que se encontrem com o saco lotado: “a sordidez do conteúdo desses dias maquinais”, isso define boa parte dos dias.
Então fiquei fascinada e quis saber tudo sobre Sampaio. E eis que me chega às mãos, pelas mãos de outro amigo, o livro “Eu quero é botar meu bloco na rua – A biografia de Sérgio Sampaio”. Acabei de ler ontem à noite.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Viva!!!

O REM está com disco novo: Collapse Into Now.
Em 2009 fui para o show do disco Accelerate, de longe um dos melhores shows que vi nos últimos tempos. 
Ok, o REM continuar produzindo coisas boas não é novidade; eles SÃO bons! Novidade é o Michael Stipe aparecer nesse clipe de divulgação assim...assim, charmosão e quase bonito!
Uns quilinhos a mais fizeram um bem danado a ele!


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

The show must go on

Caros e parcos (eu disse pArcos) amigos que freqüentam este blog. 
Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Não acreditem. Eu sou a prova de que isso não é verdade. Desde o ano passado que raios e mais raios têm incidido sobre a minha pobre cabecinha.