quarta-feira, 6 de abril de 2011

Algo de novo no front

“No hay felicidad mas pura que la felicidad de cantar"
(Gabriel Garcia Marquez, na introdução do disco Pablo Querido, de Pablo Milanes)

Quando eu era pequena, sonhava ser cantora. Como não nasci dotada dos equipamentos vocais adequados (ou seja, não canto porcaria nenhuma), desisti da idéia, por mim e pelos potenciais ouvintes. Então só me restou ouvir. O que, aliás, não é pouco, pois, complementando a frase de Garcia Marquez, citada logo acima,  poucas felicidades são também tão puras quanto a de escutar uma boa música. 


Minhas primeiras experiências foram com o rádio, com os forrós e as canções bregas  cantadas por Vilanir, que começou a trabalhar na casa dos meus pais quando eu era criança há...bem, há muitos anos.  Ela passava o dia todo varrendo a casa, lavando pratos e cantando clássicos: "No hospital, na sala de cirurgia, pela vidraça eu via, você sofrendo a sorrir..." ou ainda "ele tá de olho é na boutiiiiique dela", dentre muitas outras. Creio que Vilanir é responsável pelo meu gosto por baladas-tendentes-ao-brega.  Quanto ao rádio, eu sofria longos  e lentos minutos de agonia, ouvindo comerciais e notícias,  enquanto esperava por alguma música. Até hoje tenho um carinho especial pelo rádio, e creio que dele ficou minha predileção por ouvir as músicas do IPOD no aleatório (no rádio a gente nunca sabia qual seria a próxima música). 

Depois de algum tempo minha mãe ganhou uma vitrola e eu pude comprar alguns discos de vinil com o dinheiro que eu economizava do lanche da escola (meses de fome por um bom disco, mas valia a pena). Cada ida à loja era um evento. E claro que eu dizia a todo mundo que no meu aniversário queria ganhar discos, o que me rendeu pelo menos uns cinco vinis para a minha parca coleção. E foi quando ouvi falar de um tal CD, que estava chegando para destruir todos os vinis.

O aparelho para tocar CD, diziam, era caríssimo, e os CDs mais ainda. Algo inacessível pra mim, o que quase me fez entrar em depressão. E de fato vieram os CDs, mas felizmente as vacas tinham engordado um pouquinho, e antes que todas as lojas de vinil acabassem eu pude começar a comprar alguns CDs. Tá, não tinham aqueles encartes maravilhosos do vinil, não tinham o mesmo charme, mas aos poucos a ferida aberta pelo fim dos bolachões foi sendo cicatrizada, sobretudo depois que lojas como as Americanas passaram a disponibilizar uma grande variedade a preços acessíveis. 

E foi em Recife, pelos idos de 2001/2002, que vivi um "boom" musical: ampliei bastante meus horizontes, conheci muita coisa nova, e comprei muitos CDs. Era um êxtase. Aí surgiu essa coisa de baixar música pela internet. No início até gostei da idéia porque pude encontrar músicas que tinha ouvido na infância ou na adolescência que não encontrava facilmente em CDs. Tive minha fase de pesquisar e  baixar, mas depois fui ficando meio apática. É que sou antiquada mesmo, e deu uma saudade dos encartes, da coisa de ir à loja, ficar lá escutando, ver a capa e tal. 

O tempo passou, e dia desses uma pessoa perguntou o que eu andava ouvindo ultimamente, e me dei conta de que só ando procurando conforto nas melodias já  conhecidas: Queen, Pink Floyd, REM (que tá de disco novo), Chicos (Buarque e César), Zeca Baleiro, Lenine, dentre outros. O  espírito explorador andou sumido. Creio que as razões estão ligadas ao declínio do CD. Não existe mais a diversão de ir à loja, a dificuldade de procurar o CD...tudo está tão...a um clique! Tão a um clique que dá preguiça. E o Ipod cheio de músicas e eu não escuto nem a metade. Na verdade, é uma espécie de fenômeno comum hoje em dia em relação a muitos outros aspectos: o excesso de oferta, de informação, ao invés de instigar, gera ansiedade e em alguns casos paralisação. E não nego, claro, os outros fatores: eu sou mesmo uma saudosista, EU QUERO DE VOLTA MINHAS LOJAS DE VINIL E DE CD!!! 

Bom, mas todo esse momento divã foi para registrar que não por acaso uma ida ao Recife na semana passada me trouxe de volta ao maravilhoso mundo das novidades musicais, e venho guardar aqui na minha cápsula uns vídeos de músicas que eu não conhecia e curti . 


Começo com a voz doce de Tiê com a musiquinha igualmente doce “aula de francês”. Um mimo, parece musiquinha de criança:

Thiago Pethit e Tiê, num vídeo muito legal:

A voz de cantora de rádio e os erres puxados de Tulipa Ruiz:

O humor e o apelo brega de Rafael Castro e seus monumentais:

Momento saudade com Tiê cantando uma das músicas  preferidas da minha pós-infância e ante-adolescência (?):

Adriana Calcanhoto, com disco novo, numa música que me lembra Paulo Leminski: “ai do acaso se não ficar do meu lado”

Nouvelle Vague, “coletivo musical francês”, e seus belos covers:


E antes que eu me esqueça: apesar da saudade do vinil e do CD, viva o youtube!!!

Um comentário:

Não disse...

Eu também quero os discos de vinil de volta!

Mas, bem devagar eles estão voltando... Não se impressione com o preço dos tocadores, antes velhas "radiolas", os bons não saem por menos de R$ 800,00.