terça-feira, 26 de outubro de 2010

Obrigada, José Serra

Sou uma pessoa meio antiquada. Nasci na década de 70. Gosto de músicas antigas, de filmes um tanto velhos, tenho hábitos meio arcaicos, tais como preferir uma boa conversa pessoal com os amigos, ao invés de email ou twitter. Então tenho um jeito de pensar e de sentir as coisas também um pouco, vamos dizer assim, ultrapassado. Nesse nosso tempo atual, individualista (e eu diria que até um tanto niilista), fico igual a Cazuza, sentindo falta de uma ideologia para viver, de um sonho no qual possa acreditar. Não suporto a apatia, a falta de motivação. Mas era assim que eu andava ultimamente, no que diz respeito à política.
E aí você me salvou dessa indolência em que eu estava mergulhada, você me mostrou que existe uma razão para lutar e para votar. Você, José Serra. 
No primeiro turno eu estava achando que você e Dilma tinham idéias e projetos muito parecidos. Na verdade, confesso, não havia ainda despertado para a busca de informações, para o acompanhamento mais freqüente das discussões.  Mas nessa campanha do segundo turno, você finalmente disse a que veio. Mostrou que é diferente, e muito. Então muito obrigada por ter mostrado a cara. 
Sua campanha de difamação contra Dilma me fez pesquisar sobre a vida dela. Enxerguei a mentira por trás das alegações lançadas na internet de que ela era ou tinha sido terrorista. Mas não é só isso. Depois de conhecer a biografia de Dilma, a candidata que antes eu via como insípida e até um tanto forjada, hoje enxergo como uma mulher forte, que lutou com paixão e destemor pelas causas nas quais acreditava. As suas táticas sujas, José Serra, envolvendo uma discussão ridícula sobre aborto e posições religiosas me fez perceber o fundamentalismo por trás do seu sorriso, no qual, a propósito, nunca acreditei. Ah, ia esquecendo: obrigada também porque eu andava um pouco cansada e até meio triste (coisa pessoal, sabe?), mas a ridícula e fingida hipocondria em torno do "OVNI" que lhe atingiu na cabeça me fez rir.  
Em um texto anterior, falei de política e de voto de modo um tanto tímido, quase justificando a mim mesma minha decisão de apostar no PT. Mas as suas manobras, a sua campanha suja, as desprezíveis táticas do medo, do terror e da mentira fizeram com que eu me aprofundasse nas informações e na reflexão sobre o quanto o país mudou nesses últimos anos. Obrigada, então, porque agora eu vejo com clareza o quanto de atraso a sua eleição iria representar.
Mas sou sentimental, leonina e apaixonada por tudo em que acredito, por isso meu agradecimento principal é por você por ter me livrado do receio de acreditar em Dilma, por ter me trazido de volta o gostinho da “ideologia”. Eu disse anteriormente que hoje não viajaria mais 600 km para votar em Dilma, como viajei para votar em Lula. Na época estava morando provisoriamente em outra cidade, a trabalho, e não havia transferido o título eleitoral. Pois agora voto aqui mesmo, na cidade em que moro. Não preciso viajar, mas a eleição é no meio de um feriadão. Então vou deixar de viajar. Não vou aproveitar o feriado porque QUERO votar. Faço questão, veja só. Voltei a fazer questão! Então muito obrigada, Serra, por ter proporcionado essa sensação de que estou politicamente viva de novo, obrigada porque, graças ao que descobri sobre Dilma (repito, instigada por você!), vou comparecer à urna com alegria, esperança e com o nome dela exposto do lado esquerdo do peito. 


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