domingo, 19 de dezembro de 2010

The joke was on me

(guia musical para o fim de um relacionamento)

As músicas definitivamente fazem parte da vida, de um modo muito especial e marcante. Algumas lembram a infância, outros são a cara de algum amigo ou amiga. Casais costumam ter a sua música. E algumas marcam indelevelmente o fim dos relacionamentos.
Todo final é doloroso. E a duração desse processo vai depender de uma série de fatores: a sua idade, a sua experiência com a própria dor, o nível de desgaste da relação, os motivos pelos quais ela chegou ao fim e, claro, o quanto você gostava dele ou dela. Com o tempo você vai aprendendo a respeitar cada fase, e se não tiver tanto medo assim da solidão e de si mesmo, vai aprender quase que a contemplar o luto. 


“Viver devagar é que é bom, e entreviver-se, amando, desejando e sofrendo, avançando e recuando, tirando das coisas ao redor uma íntima compensação, recriando em si mesmo a reserva dos outros e vivendo em uníssono. Isso é que é viver, e viver afinal é questão de paciência. (...) A gente sofre muito: o que é preciso é sofrer bem, com discernimento, com classe, com serenidade de quem é já iniciado no sofrimento”.  (Fernando Sabino, em carta para Clarice Lispector).

Para quem já é iniciado, dói muito, mas é uma dor sem desespero e sem pressa. 

Muitas vezes, quando tudo acaba, a primeira reação é de incredulidade; apesar de tudo, você não acredita que realmente chegou ao fim.  Vem a sensação de perda, de estar deixando para trás alguém que participava intensamente da sua vida, alguém com quem você planejava (e sonhava) algo muito maior.  Para essa fase, nada melhor (ou pior)  do que a balada Don't speak:
You and me
We used to be together
Everyday together always
I really feel
That I'm losing my best friend
I can't believe
This could be the end


Existe ainda aquela fase em que você tem pena de si mesmo, jura que nunca mais vai amar novamente e precisa de uma música forte, que faça chorar intensamente. Nada mais dramático e apropriado do que Love Hurts:
Love hurts, love scars, love wounds' and most
Any heart not tough or strong enough
To take a lot of pain, take a lot of pain


E existem os dias em que dormir é difícil, e se imaginar sem ele(a) é um terror, mas com ele(a) também não dá mais. Então você tem raiva de si mesmo por sentir tanta saudade...
And it makes me so angry
To know that the flame still burns 


Momentos em que a lembrança é pungente...
So long, it was so long ago
But I've still got the blues for you


Mas os piores momentos são aqueles em que você pensa que tudo (ou muito) não passou de uma farsa; raiva, dor, a sensação de ter sido ludibriado. Você acreditava que estava construindo alguma coisa, mas tudo não passava de um jogo. E então, alguma coisa em você morre. Uma coisa que não tem nome, que é ao mesmo tempo imensa, quase descomunal, e extremamente frágil. Uma coisa que é doce e arde. Morre. Acaba. Game over.
I started a joke
Which started the whole world crying
But I didn't see
That the joke was on me
I started to cry
Which started the whole world laughing
Oh if I'd only seen
That the joke was on me



Quando o fim envolve infidelidade, a cláaaaassica e ultra raivosa de Alanis Morrisete é o que há de melhor:
Is she perverted like me?
Would she go down on you in a theater?
Does she speak eloquently?
And would she have your baby?
I'm sure she'd make a really excellent mother


E existe aquela fase em que tudo já foi dito; não há mais nada para conversar, não há nada que possa ser resolvido. É, definitivamente, o fim. Você simplesmente não quer mais. Na verdade, tudo que você quer é mandar que ele(a)...exploda. Para isso, uma das melhores músicas sobre rompimento: sexed up. Vale a pena reparar na tradução. 
Encha os pulmões de ar e grite:
I HOPE YOU BLOW AWAY!!!


Mas então os amigos apóiam, a família ajuda. Você toma um banho de mar de manhã, cedinho, procura se concentrar no trabalho, e afinal a vida segue. Procura pensar nas coisas que virão e tenta se convencer de que vale a pena se reerguer...mas ainda chora e se lamenta:
Every day I write the list
Of reasons why I still believe they do exist
(a thousand beautiful things)
And even though it's hard to see
The glass is full and not half empty
(a thousand beautiful things)
So... light me up like the sun
To cool down with your rain
I never want to close my eyes again



Até que um dia ocorre a alquimia: a dor se transforma em recordação. Você não pensa que é hora de recomeçar, você SENTE isso. O pensar, o decidir, são atos de vontade. O sentir é absoluto, ele vem quando você está pronto. E isso só o tempo é capaz de fazer:
It's only time that heals the pain, 
and makes the sun come out again
Demora, e nesse meio tempo você pode passar por todas as fases, às vezes mais de uma ao mesmo tempo. Parece que a dor não vai passar nunca, mas um dia ela passa. Porque, afinal de contas, You're old enough some people say, to read the signs and walk away...



Um comentário:

Anônimo disse...

Esse post me lembra essa de Mário Quintana:

DO AMOROSO ESQUECIMENTO
Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?