sábado, 11 de dezembro de 2010

Pequena crônica de um pôr-do-sol

E se a beleza te alcança inesperadamente, te pega, te sacode, te tira do sério e te leva para dançar? E se ela te atropela numa esquina vazia, na entrada de um beco estreito, numa tarde sem graça, numa vida momentaneamente vivida em sephia
Eu conhecia cada grão de areia que fazia cócegas nos meus pés e entrava pelas  unhas. Praia da minha infância, caminho mil vezes percorrido. Ao redor, o mesmo mar, as casas de sempre, as pequenas ruas de terra batida cheias de cocos secos e latinhas de cerveja e , como era começo de janeiro, garrafas vazias de cidra cereser. 

Caminhava assim, distraída, entediada e certa, quando olhei despretensiosamente para o lado, onde jazia um beco. Foi então que aconteceu: o beco me capturou. Abduzida, fui andando devagar em direção a ele, depois passei a correr, pois o tempo era curto e não podia perder nenhum segundo. Pisava a  mesma terra, mas com a sensação da descoberta pulsando no compasso  agitado do meu coração de sedentária. E aquela ruazinha que tantas vezes tinha sido um atalho nos dias de maior preguiça  revelou a tarde de uma maneira brusca. 

O sol descia lentamente, por trás dos coqueiros. O céu se coloria de laranja, aquele laranja quase vermelho do vestido que eu mais gostava. A brisa parecia querer contribuir com uma foto, pois agitava as folhas do coqueiro apenas na medida exata para que eles ficassem levemente inclinadas, no ângulo perfeito. 
E o beco me fez lembrar que a beleza pode ser muito simples. Foi o pôr do sol mais bonito que vi naquela nova velha praia. 

(2006, Foto da praia de Tibau-RN))

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