quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A coisa mais fina do mundo

A mãe de Adélia Prado achava estudo a coisa mais fina do mundo, mas Adélia discordava:

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

Eu também acho que o sentimento – um amor que transcende sua própria semântica - é uma coisa muito bonita e muito fina. Da mesma forma a bondade e o perdão.  Mas pra mim a coisa mais fina do mundo é o respeito. O respeito e sua filha dileta, a tolerância.
Há cerca de 20 anos um professor de história do meu colégio escreveu no quadro negro uma frase mais ou menos assim: “Posso não concordar com uma só palavra do que disseres, mas lutarei a vida inteira pelo direito que tem de dizê-las”. Ele disse que essa frase era de Voltaire, filósofo iluminista. E isso faz vinte anos, mas eu nunca esqueci, porque foi uma das coisas mais bonitas que eu já li. Não concordar com o outro, achar que ele está errado, mas respeitar o direito que ele tem de se expressar. Respeitar é saber olhar para o outro, é saber enxergar essências.  O respeito é a base de tudo, até mesmo do sentimento. Ele pode estar presente tanto num beijo quanto na discussão, numa crítica e num elogio. É uma coisa muito fina porque por definição é a base do amor e da amizade, mas pode existir até entre dois inimigos. 
Houvesse mais respeito e teríamos menos violência, entre países e entre pessoas. Houvesse mais respeito e haveria mais sentimento. 
Adélia Prado achava sentimento a coisa mais fina do mundo. 
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o respeito. 

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