segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Paulistanices em quatro tópicos

1. Simplesmente eu, Clarice Lispector. Tive a felicidade de assistir a essa peça, com textos de Clarice adaptados e interpretados por Beth Goulart, que ora encarna a própria escritora, no divã, em entrevistas e em meras citações, ora se transforma em algumas personagens de dois de seus livros, "Perto do coração selvagem" e "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres", além dos contos “Amor” e “Perdoando deus”. Pra quem não conhece Clarice Lispector a peça é  muito interessante e certamente estimula a leitura. Os textos falam de deus, de amor, de dúvida, contradição... enfim, são de uma riqueza capaz de deleitar  mesmo quem não tem familiaridade com a escritora. Pra quem já gosta dela, bem, aí eu diria que a peça é simplesmente perfeita. Os trechos foram muito bem escolhidos, a ligação entre a fala de Clarice e a de seus personagens é de uma precisão espantosa, formando um todo coerente e absolutamente encantador. A atriz, então, é um show à parte. A elegância, a expressão corporal, a voz (ela canta e dança na peça), a imitação da língua presa de Clarice...tudo diz que Beth Goulart mereceu os prêmios que já ganhou com essa apresentação. A propósito, lembrei-me dos atores que começam na rede “grobo”, geralmente em “Malhação”, achando que ser ator é decorar um texto e fazer caras e bocas diante da câmera. Quanta diferença que é ver uma atriz completa em ação. Já gostava dela, achava simpática ,  mas agora, decididamente, virei fã. 

2. Scorpions, a turnê de despedida. Não pude ir para o Sun Rock em João Pessoa, mas claro que não ia perder os sessentões pinotando no palco pela última vez. Estava um frio absurdo e só depois de uma hora e meia na fila (junto com milhares de pessoas) vieram avisar que...estávamos na fila errada! E só avisaram ao pessoal do final, e todos saíram correndo feito loucos, de modo que a entrada no Credicard hall foi totalmente atrapalhada. Mas o show fez com esses maus momentos fossem superados. Belíssima apresentação, os telões estavam perfeitos, mostrando a trajetória da banda, as capas dos discos, e até a queda do muro de Berlim, quando tocaram Wind of Change. Eu ouvi Wind of Change pela primeira vez quando tinha entre treze e catorze anos (haja tempo...) e até hoje essa música me emociona e me faz voltar àquela época. Lembro que eu estava sentada lendo "Capitães de Areia" e ouvindo rádio; a música começou a tocar, eu parei pra ouvir e passei minutos encantada, querendo segurar o tempo naquele momento exato, até porque era muito difícil comprar discos e de certo modo eu dependia das FM´s...Lembro também de um professor de inglês que deu a letra dessa música numa aula, e ouvimos e cantamos várias vezes, e pra mim foi um êxtase. 
E claro que eles tocaram Holiday, Rock you like a hurricane, Still loving you, dentre outras clássicas, mas um excelente momento foi também  com uma canção do disco novo: The best is yet to come. Enfim, uma super despedida, que vai deixar saudade. 

3. As paulistanas. Fez  um frio danado na cidade e as mulheres de São Paulo estavam muito bonitas. Uma explicação aos homens: como diz Rita Lee, mulher é bicho esquisito. Nós olhamos muito mais para outras mulheres do que para os homens, porque gostamos de analisar, medir, avaliar, comparar, invejar...é uma apreciação estética, analítica, entendem? Pois bem, olhei muuutio para as belas roupas que elas usavam nesse frio. Não sou ligada nessa coisa de moda, desfiles, acho um saco, mas gosto de ver as pessoas nas ruas, no metrô, e aqui em Natal não dá pra fazer isso, primeiro porque quase ninguém anda pelas ruas. Não temos o hábito de caminhar ao ar livre. Segundo porque não tem metrô! E depois porque esse calor acaba com qualquer produção.  E o que se vê nos shoppings é na maioria das vezes mera transposição do que estava nas capas de revistas e vitrines, sem muita criatividade. Uma coisa insossa, uma coisa bem...Natal!
Então, a avenida paulista é uma beleza para olhar as roupinhas e combinações. Acho que o modo de se vestir das paulistanas traduz muito a diversidade cultural que existe lá, essa coisa bem urbana e meio solitária. Vi  muitos trench-coats, casacos em geral, meia calça, sapatilhas fofas, botas, sobreposições, só roupa que eu adoro!  A verdade é que no frio as mulheres têm mais classe, mais elegância, ficam mais misteriosas e com um ar blasé, bem mais legal do que essa coisa oferecida do short super curto com sandália alta, hit aqui em Natal. 

4. Saudade. Se me dessem um saco gigante de pipoca, uns sanduíches e coca-cola eu passaria um dia inteiro no Museu da Língua Portuguesa, vendo filminhos, brincando de formar palavras e lendo Fernando Pessoa. São Paulo é o que há de bom!!! Queria mais...



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