quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pablito, a história de duas paixões.

1) O primeiro Pablo
Conheci Pablo Milanés (o cantor cubano) em 1998. Era o último ano de faculdade, e a idéia de luta, de dificuldades a serem vencidas, tudo isso era o futuro, um futuro que acenava com nenhuma certeza mas com mil perspectivas. 
Eu sempre fiz um gênero meio esquerdista-sentimental, esquerdista-sonhador, se é que alguém me entende. O tipo que era fã do Lula metalúrgico; o tipo que tinha lido cinco vezes os “Capitães da Areia” de Jorge Amado, e achava linda a história do ex menino de rua que crescia e virava líder grevista; o tipo que tinha tentado ler “O capital” diversas vezes; que pegava livros emprestados com os professores de história;  que se apaixonava por garotos de cabelo grande e brinco na orelha; que morria de vontade de conhecer Cuba; o tipo que sonhava em utilizar a profissão para fazer justiça social. Finalmente, o tipo que, depois que de conhecer Pablo, chorou ao ouvir yo pisare las calles nuevamente, you no te pido, cancion para unidad latonoamericana e acto de fé.  
Pablo embalou toda uma fase da minha vida, de muita expectativa e sonho, de uma ingenuidade que foi se perdendo pelo caminho. 
E depois de me apaixonar pelo Pablo das letras de protesto, caí de amores pelo Pablo romântico, com suas lindas e tristes canciones. É que eu também sou do tipo que acredita que o amor é uma coisa revolucionária, e que é preciso sentir a emoção de amar sem regras e sem medidas. E que quando essa emoção se vai, é preciso ter a dignidade de reconhecer o fim. Para vivir foi a música que impulsionou uma grande mudança na minha vida. 
Aí depois de tudo, superada a  tristeza, comecei a namorar o Pablo alegre, com suas proposiciones e com muito ritmo.  O CD “Pablo Querido” (que tem uma belíssima introdução feita por Gabriel Garcia Márquez), no qual ele canta com intérpretes do mundo todo, inclusive do Brasil, tornou-se  para mim referência de beleza, emoção e musicalidade. 

2) O segundo Pablo
O segundo Pablo chegou em um momento inusitado. O ano era 2004. 
Eu nunca tinha tido animal de estimação. Quer dizer, na infância tive um gatinho, mas ter um gatinho, pra mim, era só observá-lo à distância; eu não brincava com ele, não chegava muito perto. Na adolescência tive um urso de pelúcia enorme, chamado Onofre, mas nossa interação, obviamente, também não era das melhores. Animais não eram o meu forte.  É que eu era o tipo que passava mal em simples aulas de biologia, do tipo que não suportava ver sangue, que tinha “gastura” de tocar nos animais e sentir os ossos,  os órgãos internos...é, eu era do tipo muito fresca. 
Aí me chamaram pra ver uma ninhada de akitas, os belos cães japoneses. Insistiram demais pra que eu ficasse com um. Eu??? Ora,  eu não era do tipo que cuidava de cachorro. Mas pensei bem e vi que um dos cãezinhos era meu tipo...assim, ele era meio de esquerda, sabem como é? Em uma ninhada de vários cãezinhos brancos e dourados, ele era o único pretinho! 
E o danadinho me pegou. E mudou a minha vida. Nós praticamente crescemos juntos, porque eu voltei a ter infância. Saía correndo cada vez que ele roubava minhas sandálias, dançava com ele, e certa vez chegamos até a tomar um uísque juntos, mas que fique bem claro: ele bebeu um gole do meu copo em um momento de absoluta distração. E levou bronca por causa disso. 
Lembro que na primeira vez em que saímos para a rua, senti dó de colocar coleira, porque nas minhas malucas imaginações, no dia em que saíssemos para passear ele iria tranquilamente ao meu lado, solto, e acho até que no fundo eu imaginava que ele ia conversando comigo!
Esse cãozinho foi pra mim a revelação de um mundo novo: o mundo do toque, dos ossos e vísceras, do cuidado com outro ser. Do banho sem molhar as orelhas, do passar pomadinha, do não poder esquecer de jeito nenhum o jantar (o dele, claro). Um mundo palpável, amoroso e lúdico. A casa se tornou um lugar alegre, pois cada vez que eu chegava era recebida com um belo uivo (sim, os akitas parecem lobos e gostam de uivar).  Claro que, apaixonada assim, eu não fui exatamente uma dona rigorosa e ele não é exatamente um cachorro educado e obediente. Uma vez tomou de minhas mãos uma caixa de chocolate que eu tinha acabado de ganhar, saiu correndo feito louco e ainda conseguiu comer uns três, com papel e tudo. Costumava me derrubar cada vez que eu chegava em casa, pra tomar minhas sandálias e ir enterrá-las no jardim. 
Tá, eu morro de remorso quando vejo na TV os programas sobre adestramento e educação dos cachorros. Tenho remorso porque penso que fiz tudo errado e criei um monstrinho. 
Como se não bastasse, foi graças a ele que resolvi cuidar também de outra coisinha fofa: a digníssima  akita-esposa, a Sra. Maria Lola Milanés (vulgo Lolita), que merece uma historinha só pra ela.
 Ops...o sobrenome dela é Milanés??
Ah, eu não contei ainda? Quando levei pra casa aquele akitinha lindo, veio a questão: que nome dar pra ele? Não queria “rex” nem nada do tipo e pensei que seria uma boa dar o nome de um cantor que eu apreciasse. Pensei, pensei, e então no nosso primeiro dia juntos,  ele tomava água timidamente enquanto eu o observava e ouvia “la felicidad”. Aí ficou decidido: Pablo. Pablo Milanés, meu amorzinho torto, desobediente, anárquico, malandro, e talvez por isso mesmo tão querido. 
Pablo querido.  

2 comentários:

Anônimo disse...

Emocionante a historia do cão e da convivência de vocês

Lisandra disse...

:)

E imagine, Nira, que antes eu até morria de medo de cachorro! Hoje não vivo sem os meus bichinhos!