segunda-feira, 12 de julho de 2010

Letras brasileiras

Oswaldo Montenegro conta que em 1997  encontrou Roberto Menescau em um aeroporto. O vôo tinha atrasado e os dois começaram a conversar sobre letras de músicas brasileiras e a citar trechos que consideravam verdadeiros poemas, a exemplo de calça nova de riscado, paletó de linho branco, que até o mês passado lá no campo ainda era flor. Daí surgiu o projeto letras brasileiras, com alguns CDs em que Oswaldo canta poesia. 

Às vezes me pego pensando, também, em certas letras, no quanto parecem ter sido milimetricamente construídas e ao mesmo tempo fruto de grande inspiração (uma coisa não exclui a outra!). Não cito Chico Buarque nem Caetano, porque é covardia.  Também estou dando preferência, neste momento, a compositores mais recentes, daí a ausência de Cartola e outros. E afinal de contas isto aqui é apenas uma pequena e modesta lista, e listas são sempre falhas e incompletas.
Seguem, então, alguns trechos que considero muito bonitos ou que simplesmente me tocam:

Poesia vã
Pobre verso meu
Que brota quando feneceu
A mesma flor que concebeu
Perdido na alucinação
Do amor
Acreditando na ilusão.
(Teresa Cristina e Pedro Amorim)

xxx

Sou seu fado, sou seu bardo
Se você quiser ouvir
O seu eunuco, o seu soprano
Um seu arauto
Eu sou o sol da sua noite em claro
(...) Eu sou pelo avesso sua pele
O seu casaco
(Adriana Calcanhoto)


xxx

Nada tenho vez em quando tudo
Tudo quero mais ou menos quanto
Vida vida, noves fora, zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver
(Zeca Baleiro)

xxx

Um barco sem porto sem rumo sem vela cavalo sem sela
Um bicho solto um cão sem dono um menino um bandido
Às vezes me preservo noutras suicido
(Waly Salomão / Jards Macalé / Zeca Baleiro)

xxx

E acende a luz, mas essa luz me cega
E abre em rosa a pedra que no peito eu trago
(Chico César)

xxx

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões
Estão todas perdidas
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão barato
Que eu nem acredito
(Cazuza)

xxx

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
(Cazuza)

xxx

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
(Cazuza)

xxx

Quem gritou pelos bares
Que amava (e amar dói)
Nos livrou do bom senso
Nos salvou do juízo
É um herói
(Oswaldo Montenegro)

xxx

Socorro!
Alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor
Uma emoção pequena, qualquer coisa!
Qualquer coisa que se sinta...
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
(Arnando Antunes/Alice Ruiz)

xxx

Viver ou morrer é o de menos
a vida inteira pode ser qualquer momento
ser feliz ou não: questão de talento
(Iara Rennó / Alice Ruiz)


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