quarta-feira, 14 de julho de 2010

Meu próximo filósofo preferido

Será o francês Michel Onfray. Ontem, por acaso, chegou às minhas maõs uma revista antiga e não menos por acaso abri na página de uma entrevista com ele. Viva o acaso, que frequentemente está ao meu lado (e, como diria Paulo Leminski, ai dele se não estiver!)
Li a entrevista e procurei diversas outras informações sobre o autor, pois fiquei muito curiosa. Ele defende, dentre outras coisas, a substituição da religião pela filosofia e o que chama de hedonismo ético. Defende a liberdade no sentido mais complexo da palavra. Explico: muitos interpretam liberdade apenas como poder ir e vir e ter autonomia para pagar as próprias contas. Mas quase sempre se vêem presos à burocracia, a esquemas de vida que não foram livremente escolhidos, e sim  simplesmente seguidos por falta de questionamento. Em resumo, ele postula o "não ir com os outros" só por convenção. Na verdade, ter que definir o próprio destino é tarefa cansativa e muito difícil (quem sabe um dia eu consiga). Diz o filósofo em uma de suas entrevistas: "É preciso inventar novas possibilidades de existência". Esta é uma idéia que me vem à mente constantemente, mas poucas vezes tenho coragem de expressar, porque ou parece coisa de quem não tem mais nada de prático ou importante para pensar, ou parece coisa de doido. Mas quem foi que disse que temos que viver exatamente assim, desse modo linear, trabalhando oito horas por dia, casando, tendo filhos, nos aposentando  para, finalmente, sentar "no trono de um apartamento" para esperar a morte chegar? Trata-se de um modelo de vida eminentemente histórico, construído, mas desde sempre nos parece algo imutável, uma espécie de lei universal (ok, já houve época em que eram 14 horas de trabalho por dia, mas isso não vem ao caso agora).
Essas mesmas idéias, de construção do próprio destino, estão presentes em Camus, outro autor que eu adoro. 
Onfray critica também o sistema de ensino. Na verdade, ele considera que tal sistema é de adestramento, e não de educação. E afirma: Nietzsche dizia que um bom mestre é aquele que ensina os alunos a se desligarem dele. Então é preciso ensinar as pessoas a se desligarem de seus mestres, a serem mestres de si mesmas. É um estranho paradoxo, mas nós, professores, somos feitos para não existir. O que interessa é que as pessoas tenham uma relação direta com a filosofia, na qual eu serei apenas um mediador. Eu sou feito para desaparecer.
Outro ponto interessante é que Michel Onfray, pelo que pude ver, é bastante coerente...na piscina dele não existem ratos. Por não concordar com esse sistema de ensino, ele  pediu demissão das universidades francesas e fundou uma universidade Popular Gratuita, mas sem diplomas, onde o essencial é aprender. E vive hoje dos seus direitos autorais. Sobre quem afirma que ele repete idéias e argumentos antigos, sobretudo no que diz respeito às críticas à religão, ele responde: Não se pode fazer muito a respeito, a não ser dizer e redizer o que é verdade há muito tempo. 
Alguns livros dele em português: A política do rebelde; O ventre dos filósofos; Contra história da filosofia; Tratado de ateologia.
Ainda não li nenhum, mas ele está como prioridade na minha lista. 
Agora, para finalizar esse texto de modo não linear, bagunçando a linha de argumentação até agora empregada, que vinha sendo no sentido de salientar as prováveis qualidades do texto do Sr. Michel, devo dizer que, além de libertário e ético, ele é um "coroa" francês super charmoso, com aquela carinha fofa de intelectual abusado!

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