quinta-feira, 17 de junho de 2010

Eu quero é outro rabo no jumento

Lembro que por volta de 1998 pipocaram ações de indenização por danos morais ajuizadas por consumidores. Acontecia principalmente de, na saída,  os sensores das lojas sinalizarem, o consumidor ser abordado por seguranças e ser constatado que, afinal, ele não estava levando nenhum produto e o problema era do sensor. Aí certo dia, naquela época, ouvi uma pessoa dizer: ah, se aquele “negócio” apitasse quando eu saísse das lojas americanas...ia fazer a maior confusão, arrumar umas testemunhas e ganhar indenização por dano moral! 

Clap clap clap. Palmas pra ela. 

Essa afirmação resume o problema dos danos morais hoje. Tem muita gente que não deseja viver em paz, não deseja ser respeitado. Deseja muito mais uma indenizaçãozinha. Então provoca, cria caso de tudo e até inventa.

A indenização por danos morais é uma grande sacada jurídica porque mexe com algo muito importante para o ofensor: o bolso. Sem dúvida é um avanço. Ofendeu, vai pagar, playboy. Às vezes é com uma "ameaça" de processo por danos morais que conseguimos  um mínimo de respeito e atenção no atendimento massacrante de operadoras de linhas aéreas, celulares, cartões de crédito, bancos etc etc etc.  Mas as pessoas, ah, as pessoas... Elas burlam os sistemas, distorcem, manipulam...Então ai de quem olhar feio, ai de quem não cumprimentar, ai de quem criticar, ai de quem discordar. Infelizmente em muitos casos a indenização virou arma de políticos e “personalidades” ditatoriais (apontada preferencialmente para jornalistas), escudo de recalcados e meio de obtenção de uma graninha fácil para desocupados. 

Espero que chegue o dia em que as pessoas se respeitem mais e dêem valor, antes de qualquer coisa, ao resgate da sua própria dignidade. Ou, com a sabedoria que reside na simplicidade, em que todo mundo queira de volta o rabo no jumento, e não o pagamento:



Você disse que é brabo, Nascimento

Você cortou o rabo do jumento

Eu não quero pagamento, Nascimento

Eu quero é outro rabo no jumento


(Elino Julião)


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