quarta-feira, 16 de junho de 2010

Teologia da intolerância e do atraso

Na revista Isto é, edição de 02 de junho, saiu uma entrevista com Leonardo Boff, teólogo, intelectual, franciscano, artífice da teologia da libertação. Ele, que conviveu de perto com o atual papa, o alemão Joseph Ratzinger, fala sobre os anacronismos da igreja católica e o conservadorismo do pontífice. Comenta o fenômenos dos padres cantores com uma observação cheia de lucidez e de beleza: "O cristianismo não pode funcionar como um ansiolítico que nos alivia, mas deve falar às consciências para que as pessoas tomem decisões que vão na direção do outro. Para mim, a mensagem cristã não significa buscar um porto seguro onde ancoramos para repousar. Mas é um chamado para irmos ao mar alto, para enfrentar as ondas perigosas. E não pedimos a Deus que nos livre das ondas, mas que nos dê força e coragem para enfrentá-las."

Uma interessante entrevista, para ser lida de coração aberto. 
Padre Zezinho, que também é cantor mas não tem nada a ver com os marcelos, fabios e cia ltda, já havia dito:
E se eu rezar por meu irmão
E em nome dele invocar teu nome
E se eu cantar uma canção
E se eu dançar por meu irmão
E me esquecer que meu irmão tem fome
Será engano meu
Não é religião querer que as coisas
Fiquem como estão e não buscar aqui 
Alguma solução
E eis que na edição seguinte, na seção “cartas”, alguns leitores escrevem dizendo que a teologia da libertação é uma traição a cristo e à igreja e que Leonardo Boff demonstrou, na entrevista, enorme desobediência , “grande e primeiro pecado do mundo”. Esse mesmo leitor diz que a revista deve fazer entrevista com teólogos engajados, que propaguem a salvação sem polêmicas desnecessárias. 
Sem querer, esse leitor resume a ideologia e a base da religião católica: a mera aceitação de dogmas e a busca da salvação individual. Pode fazer caridade, pode dar um trocadinho ao menino que pastora o carro no estacionamento da igreja, mas não precisa passar disso. 
O catolicismo (não só ele, é verdade) prega que o homem é um ser miserável, que só de nascer já pecou. E é incapaz de dar um passo por si próprio. Ele precisa da condução e jamais vai alcançar qualquer tipo de redenção se não for pela obediência cega aos preceitos e dogmas. O leitor diz: a desobediência é o grande e primeiro pecado do mundo. É engraçado, porque eu achava que existiam pecados bem maiores, como o de matar, o de roubar de crianças e adolescente toda a referência de bondade e de paternalismo (padre vem do latim pater) com abusos sexuais. Não, não, o pecado máximo é desobedecer. Mas a grande pergunta é: a quem desobedecemos quando rejeitamos os preceitos sufocantes da igreja católica?

“Uma vez a cada cem anos, Jesus de Nazaré se encontra com Jesus dos Cristãos num jardim entre as colinas do Líbano, e conversam longamente...
...e cada vez, Jesus de Nazaré vai-se embora, dizendo a Jesus dos cristãos: "Meu amigo, receio que nunca, nunca cheguemos a concordar". (Khalil Gibran)




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