quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Medo, medo, medo.

Congresso internacional do medo
Provisoriamente não cantaremos o amor, 
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. 
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, 
não cantaremos o ódio porque esse não existe, 
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, 
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, 
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, 
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, 
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, 
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas. 
(Carlos Drummond de Andrade)

Temos muito medo. Medo do assalto na esquina, do seqüestro-relâmpago, do chefe, do envolvimento dos filhos com drogas, das brigas no trânsito. De perder o emprego, de ficar endividado. Medo do escândalo. Medos, digamos, sociais. Mas também temos medo da solidão, de não sermos aceitos, de sermos traídos e abandonados. Medo de mau-olhado. Medo terrível de câncer. Medo de morrer. E não só morrer, mas também de ir para o inferno. Medo de não ser uma boa pessoa. Medo dos próprios pensamentos. Medo do que os outros vão falar ou pensar. Medo de magoar. Medo de dizer “não”. De dizer “basta”. De contrariar. Vamos chamá-los de medos interpessoais.
O medo é essencial para a sobrevivência. Por força dele, o hipotálamo ativa as reações de luta ou fuga.  O problema é quando a reação de fuga é a única escolhida, por anos a fio. Torna-se um vício. 
Ter coragem não significa necessariamente agir com agressividade, nem falar o que bem entender quando bem entender. Não significa inconseqüência; ter coragem é dominar a arte de impor limites e exigir respeito. Isso é difícil, pois fomos alimentados com um pegajoso e falsamento nutritivo medo. Uma postura mais assertiva é a base de uma existência aberta e livre de amarras. Deveria ser  um dos propósitos, um dos objetivos da vida. Para que nos nossos túmulos nasçam flores vermelhas e alegres. 


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