quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Welcome to the jungle, pós feministas

O feminismo é tido hoje em dia como um tema datado e ultrapassado. Como sou uma pessoa extremamente datada e ultrapassada, penso sobre o assunto com certa freqüência. 

Atualmente fala-se em pós feminismo. Há controvérsias quanto ao real sentido dessa expressão; uns aproximam o conceito de pós modernismo e de desconstrução, e acreditam que o gênero não pode mais ser considerado “uma categoria fixa e imutável”; mas outros vêm como uma nova configuração em que os direitos das mulheres já foram alcançados, e a idéia de feminismo deixou de representar os anseios individuais das mulheres nos dias de hoje. A julgar pelo que se vê na mídia em geral, os anseios das mulheres se resumem a evitar rugas, combater a celulite, colocar silicone e aprender a enlouquecer um homem na cama. Preocupa-me bastante o fato de as revistas e programas femininos se limitarem a isso. Na internet não é diferente. Existem sites/blogs com discussões intermináveis sobre as cores de um determinado esmalte (é sério. Setecentos e tantos comentários em um post sobre esmalte). Preocupam-me os comerciais em que as mulheres sempre aparecem em posição de submissão: desde o do perfume one million, da Paco Rabanne (o rapaz coloca o perfume – que tem referência monetária no nome- e à medida que vai estalando os dedos uma mulher vai se despindo) até os de sachê de carro e produtos de limpeza.  Em relação ao uso indiscriminado do corpo e da pornografia, como no caso das “paniquetes” da TV, por exemplo, eu nem comento. 
E esse assunto me veio à mente especificamente hoje porque:
- antes de ontem conversei com uma mulher que levou recentemente uma surra do marido com o cabo de uma foice. Repito: o cabo de uma foice. Quando indaguei se ela não achava importante denunciar esse sujeito, ela disse que não, que isso foi apenas uma “crise” que ele teve;
- hoje fiquei sabendo de uma moça que está sendo perseguida por um rapaz. O “dito cujo” alega que, já que ela não quer ter relacionamento com ele, não vai poder se relacionar com mais ninguém. A juíza que analisa o caso primeiro aconselhou a moça a mudar de bairro, depois a mudar de cidade. Ou seja, não é o rapaz que tem que ser detido, é a moça que tem que se esconder e fugir;
- fiquei sabendo também de outra situação em que a mulher apanhou, tentou fugir para a casa da mãe e a mãe disse que ela voltasse para a casa do marido. Ou seja, praticamente afirmou que ela tinha o dever de agüentar. 
- por fim, li recendente na Isto é que, segundo o mapa de violência 2010, uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil.

A conclusão é de que o machismo faz parte da nossa cultura, e as próprias mulheres fecham os olhos a essa realidade. Não se trata de abrir uma guerra contra os homens, até porque, pelos casos que eu citei acima, as mulheres cuidam de ratificar e perpetuar a situação. Não faço a menor idéia de qual seja a solução, mas tenho certeza de que passa sobretudo pela questão da educação. E talvez por isso mesmo seja tão difícil de resolver. 


Ps: Welcome do the jungle é título de uma música da banda  guns n’roses 


Nenhum comentário: